Sentir é um processo, não um problema
"Quanto mais tentamos controlar nossas emoções, mais aprisionados ficamos nelas." - Steven Hayes
Querido diário,
Expressar minhas emoções sempre foi um desafio, mas agora isso começa a me incomodar. Sempre fui muito expressiva e senti tudo intensamente, mas, de alguma forma, aprendi que não posso demonstrar mais. Chorar se tornou algo proibido, segurar as lágrimas, não parecer fraca, seguir em frente como se nada me afetasse, passou a ser o que se espera de mim. Não sei se deixo de sentir de fato ou se tudo está guardado em algum cantinho, esperando um momento para explodir… ao mesmo tempo, há uma vontade profunda em sentir — raiva, tristeza, alegria, paz… minhas emoções estão, na verdade, esperando um espaço para existir.
Onde foi parar aquela menina que sentia tudo tão intensamente? Aquela que era tão expressiva e expansiva, capaz de viver o agora de maneira plena e presente. Tenho certeza de que foi essa forma de se permitir sentir que me trouxe tantas lembranças vivas da infância e adolescência. Eu sentia tudo profundamente, e, ao sentir, registrava em mim, o viver me marcava, me ensinava...Mas, agora, na vida adulta, sentir se tornou inviável. O medo do julgamento, a pressão para ser funcional o tempo todo, a cobrança de fazer dar certo, a voz de terceiros invalidando minhas emoções… tudo isso me fez tentar silenciar o que se passa dentro de mim, me convenceu de que é melhor não sentir tanto, não me afetar tanto, não demonstrar tanto.
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Sabe o que me tirou disso? meu autoconhecimento, me reconectar comigo mesma, olhar para dentro e entender que sentir não é um erro, não é um problema a ser resolvido, mas um processo que precisa de espaço para existir.
E foi então que, intencionalmente, comecei a me aproximar de lugares onde eu podia ser eu mesma, onde não havia a necessidade de conter ou justificar o que se passava dentro de mim e então, aos poucos, fui soltando as amarras, desfazendo os nós, permitindo que minhas emoções fluíssem sem tanta resistência. E então percebi que elas sempre estiveram ali, esperando pacientemente que eu lhes desse um espaço seguro para existir.
Hoje, se a emoção vem, eu não luto contra ela, não tento encaixá-la em uma caixinha, não me esforço para escondê-la…eu deixo que ela fique, deixo que ela se expresse. Se quero chorar, eu choro. Se sinto raiva, eu sinto. Se algo me faz rir, eu gargalho sem medo de ser alto demais. E, ao me permitir essa entrega, percebo que estar viva é, antes de tudo, estar conectada comigo mesma, com aquilo que pulsa dentro de mim.
"Ser forte não significa exercitar os músculos ou forçar a voz. Significa encontrar a nossa própria luz e deixá-la brilhar." — (Clarissa Pinkola Estés)
Por tanto tempo, acreditei que ser forte era esconder minhas emoções, quando, na verdade, a verdadeira força estava em acolhê-las, em deixá-las existir sem medo ou culpa.
Afinal, o problema nunca foi sentir, mas a forma como aprendemos a nos relacionar com as emoções. Crescemos acreditando que elas são um peso, uma fragilidade, mas emoções não são fraqueza! Elas são bússolas internas, mensagens que nos ajudam a compreender o mundo, a reconhecer o que nos afeta, a dar sentido às nossas experiências. Ignorá-las não nos torna mais fortes, só nos desconecta de quem realmente somos.
Na psicologia, entendemos que evitar ou suprimir emoções pode gerar um sofrimento ainda maior. Em vez de lutar contra elas, podemos aprender a observá-las com curiosidade e aceitação. Não precisamos nos livrar das emoções desagradáveis, mas sim criar um espaço onde possamos senti-las sem que elas nos consumam.
Steven Hayes, nos afirma que "quanto mais tentamos controlar nossas emoções, mais aprisionados ficamos nelas." Se negamos a tristeza, ela não desaparece, apenas se esconde, aguardando um momento de vulnerabilidade para emergir com ainda mais força. Se evitamos a raiva, ela pode se transformar em ressentimento, atrapalhando nossas relações.
— Acolher nossas emoções não significa ser refém delas, mas aprender a escutá-las e entendê-las.
Uma das formas mais poderosas de fazer isso é nomeando o que sentimos. Quando damos nome às nossas emoções, elas perdem parte da sua intensidade e se tornam mais compreensíveis.
Por exemplo, em vez de dizer "estou mal", podemos tentar ser mais específicos: "estou frustrado porque não fui ouvido", "estou triste porque me senti rejeitado". Nomear nossas emoções nos ajuda a enxergar caminhos para lidar com elas de maneira mais saudável.
E uma ferramenta que me acompanha nesse processo é a escrita terapêutica. Escrever sobre o que sentimos nos permite organizar nossos pensamentos, dar forma ao que antes parecia confuso, aliviar a carga emocional.
para o seu diário terapêutico ❤️
essa escrita foi pensada para te acompanhar durante a semana. Retorne a ela um pouquinho a cada dia, permitindo-se que as ideias sejam processadas no seu próprio tempo, sem pressa, só o espaço para que cada reflexão encontre o seu lugar.
Reserve um dia para ouvir a si mesma e escreva:
Se você pudesse dar voz ao que sente agora, o que diria?
Existe alguma emoção que você tem evitado sentir?
O que suas emoções estão tentando te contar?
Que possamos lembrar que sentir não é um problema, é um processo. Um processo que merece respeito, acolhimento e, acima de tudo, espaço para existir.
Que lindo,sempre muito bom aprender um pouco mais com você. Obrigada! 😊
Me senti tão tocada pelo seu texto... ressoou muito por aqui. São reflexões tão necessárias que as vezes acabamos deixando de lado. Obrigada pelo lembrete gentil e acolhedor 🤍