Se for se comparar, que seja com quem você foi ontem
"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro." - Clarice Lispector
Querido diário,
A comparação é quase inevitável! Crescemos sendo expostos a padrões, expectativas e referências externas que, muitas vezes, nos fazem olhar para o lado e medir nossas vidas com a régua do outro e considerar a grama do vizinho sempre a mais verde. Olhamos para a vida dos outros, analisamos suas escolhas, seus sucessos e suas conquistas, tentando entender se estamos no caminho certo, mas, certo para quem?
O que faz sentido para uma pessoa pode ser completamente inviável para outra.
Aquele amigo que largou tudo para viajar pelo mundo pode estar vivendo o sonho dele, mas não significa que esse também deva ser o seu.
A colega que casou cedo e já tem filhos pode estar feliz com essa escolha, mas isso não quer dizer que você esteja atrasado por ainda não ter seguido o mesmo caminho.
O primo que trocou de carreira aos 40 e encontrou uma nova paixão pode servir de inspiração, mas isso não significa que você precise sentir que está desperdiçando sua vida se ainda estiver em dúvida sobre qual direção seguir.
A influenciadora que exibe uma rotina fitness impecável pode, de fato, ter disciplina e gostar desse estilo de vida, mas isso não torna errado o seu processo, suas dificuldades ou suas prioridades.
Cada um constrói sua trajetória com base em seus próprios desejos, objetivos, limitações e circunstâncias. Quando nos comparamos, ignoramos essas diferenças e nos colocamos em uma corrida que nem sempre é nossa, estamos correndo a corrida de outra pessoa porque sempre estamos olhando para o resultado do outro e, no fim, acabamos em busca de uma validação externa que nunca será suficiente justamente por não estar alinhada com o que realmente queremos.
— A única comparação justa é a que fazemos com nós mesmos.
Como éramos há um ano? Quais mudanças aconteceram de lá para cá? O que aprendemos, superamos ou descobrimos sobre nós?
Quando olhamos para nossa própria trajetória, conseguimos enxergar progresso onde antes só víamos estagnação…pequenos avanços, decisões difíceis, momentos de coragem que, se comparados ao passado, mostram que seguimos em movimento e não, não estamos parados.
Mas esse exercício de comparação interna também precisa ser feito com responsabilidade e gentileza. Às vezes, nos cobramos por não termos avançado tanto quanto gostaríamos, sem levar em conta os desafios que enfrentamos pelo caminho, vamos lembrar que: o crescimento nem sempre é linear. Há momentos de grandes saltos, mas também períodos de pausa, de reflexão, de recomeços...assim é a vida!
Como escreveu nossa inteligentíssima Clarice Lispector: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".
Cada fase tem seu valor e nos molda de maneiras que nem sempre conseguimos enxergar no momento. Muitas vezes, só conseguimos perceber o quanto evoluímos quando olhamos para trás. Aquilo que um dia parecia distante, complicado ou até impossível, de repente, faz parte da nossa realidade.
Pense em uma situação que antes te causava insegurança…talvez falar em público, dirigir sozinho ou iniciar uma conversa difícil. Hoje, pode ser que você lide com isso com muito mais naturalidade, sem sequer se dar conta do quanto já avançou. Eu mesma tirei minha habilitação aos 18 anos, mas só comecei a dirigir de fato aos 28. Nunca imaginei que um dia me sentiria segura ao volante, estacionaria um carro sozinha e, hoje, isso se tornou algo completamente natural na minha rotina.
Os medos que antes te paralisavam podem ter mudado, o que te preocupava há alguns anos talvez nem faça mais sentido agora. Suas prioridades, que já foram rígidas ou baseadas no que esperavam de você, podem ter se reorganizado de forma mais autêntica e você tenha suas prioridades hoje com base no que realmente faz sentido para você. Sua visão de mundo, antes limitada a certas perspectivas, pode ter se expandido com novas experiências, desafios e aprendizados.
Essa transformação silenciosa e intrínseca, que muitas vezes não enxergamos no dia a dia, é a prova de que estamos crescendo, mesmo que ainda existam dúvidas e incertezas, o fato de não sermos os mesmos de antes já mostra que estamos em movimento. Então, ao invés de medir seu progresso com base no que vê nos outros, experimente olhar para sua própria jornada com mais compaixão. Você não precisa estar onde imaginou há um ano…talvez a vida tenha te levado por outros caminhos, talvez você tenha descoberto outras possibilidades, e tudo bem!
Como disse Guimarães Rosa: "O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta".
O importante é reconhecer que cada passo, por menor que seja, é válido e significativo.
para o seu diário terapêutico ❤️
essa escrita foi pensada para te acompanhar durante a semana. Retorne a ela um pouquinho a cada dia, permitindo-se que as ideias sejam processadas no seu próprio tempo, sem pressa, só o espaço para que cada reflexão encontre o seu lugar.
Quem você era há um ano? Quais eram suas preocupações, desejos e desafios?
Agora, olhe para quem você é hoje. O que mudou? Que pequenas vitórias podem ser celebradas? O que aprendeu nesse tempo?
Depois, pense sobre o futuro: como você quer se sentir daqui a um ano? O que pode fazer hoje, por menor que seja, para caminhar nessa direção?